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A velha sina: fracos com os fortes

Parece ser uma questão intrínseca à maneira de ser dos portugueses. Dos que governam e dos que são governados.

14 maio 2021 > 00:00

É a velha questão de sermos fortes com os fracos e fracos com os fortes que, misturada com o desenrascanço, tão português, me leva a refletir sobre uma característica que devia estar presente a cada tomada de decisão política – a coerência.

Desde Março do ano passado que os portugueses têm sido confrontados com decisões políticas mais ou menos bem recebidas. Não invejo a posição dos decisores que, em cima de uma pandemia que surgiu de rompante, tiveram de tomar medidas num país que não é rico e que teve de pesar bem todos os pratos da balança. Foram decisões em cima do joelho, sob uma pressão mediática e social de que não há memória. Agora, já com alguma distância, podemos avaliar as que foram bem ou mal tomadas mas na hora cabia a quem tinha o poder de decidir apontar o caminho.

Atualmente a situação é diferente. Há um maior conhecimento do vírus, dos seus efeitos, da propagação, e o planeamento deve ser feito de outra forma. Os portugueses têm de perceber qual o caminho que estão a percorrer.

Não se pode impor aos restaurantes, com a tesouraria depauperada, uma limitação de lugares e depois fechar os olhos a estabelecimentos a abarrotar e a infringir todas as regras só porque há a euforia de uma celebração. Não se pode impedir um casal de fazer uma festa de casamento com 150 ou 200 pessoas quando depois se permite a instalação de ecrãs gigantes para ver a bola e se aglomeram uns bons milhares. Não se pode impedir que os amantes de Fórmula 1 ou de Motociclismo não entrem num autódromo com lugares marcados, onde as regras de segurança poderiam ser definidas, mas já se permite que haja rali com público – prevê-se a presença de muitos milhares de pessoas, incluindo uns largos milhares de espanhóis. Incoerência.

Mais uma vez Portugal foi o recurso possível para a Final da Liga dos Campeões e as autoridades já acertaram com a UEFA a presença de público no Dragão. Como ficava a coerência? Liga, FPF e Governo já resolveram e vão maquilhar com uma inusitada presença de público na última jornada da Liga Portuguesa. Dos 18 participantes da prova, 8, apenas 8 (Vitória SC tem de cumprir jogo de castigo à porta fechada), terão essa possibilidade numa ronda onde algumas posições na tabela poderão estar ainda por definir. Uma facada na verdade desportiva? Talvez.

Se era para calar as vozes dos que iriam apontar a incoerência entre a permissão na Champions e a restrição na liga nacional, poderiam abrir a exceção na Final da Taça, uma semana antes.

Já para não falar do endeusamento dos autocarros das equipas de futebol que, esta época, proporcionou verdadeiras romarias de gente cujo sentido de responsabilidade cívica deixou muito a desejar. 

E as forças da autoridade a vê-los passar.

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