skipToMain

A (re)compra da SAD do Vitória e a importância de comunicar

Como vai o Vitória (clube) pagar os 5.2 milhões que faltam da compra das ações (1.95 milhões já amanhã)? O Vitória clube não tem esse dinheiro disponível.

30 agosto 2021 > 00:00

No dia 1 de Outubro de 2020 a direção do Vitória anunciou um histórico acordo com a Mário Andrade Ferreira, S.A. (MAF) para adquirir de forma faseada as ações que esta detinha na SAD do Vitória. Independentemente de uma avaliação dos moldes deste negócio ou de qualquer juízo de valor sobre a maneira como anteriormente a SAD foi construída e capitalizada, gostava de fazer o ponto prévio de que para o Vitória e para os vitorianos é sem dúvida uma excelente notícia que passemos a ter uma posição maioritária, sendo completamente donos do nosso destino.

Dito isto, é importante contextualizar e perceber o (alto) preço deste passo. O Vitória contratualizou um preço de 6.5 milhões de euros pelas ações da MAF. Segundo o que foi anunciado publicamente e também em sede de assembleia-geral (AG) do clube, o pagamento foi acordado da seguinte maneira:

  • 1ª tranche: 30 de novembro de 2020 (1.3 milhões)
  • 2ª tranche: 31 de agosto de 2021 (1.95 milhões)
  • 3ª tranche: 31 de dezembro de 2021 (1.625 milhões)
  • 4ª tranche: 31 de março de 2022 (1.625 milhões)

Note-se que estes valores têm de ser pagos pelo clube (não pela SAD) sendo que as fontes de receita do clube são muito mais limitadas, não sendo de todo viável a geração de receitas próprias para pagar estes valores. Sabe-se que a primeira tranche foi paga (parcialmente) usando a totalidade dos suprimentos ainda restantes com a SAD (de forma simplificada, o valor que a SAD ficou a dever ao Vitória clube para ficar com todo o seu plantel profissional), mas esta via de receita foi esgotada nessa altura.

Porque é tão pertinente falar disto agora? Hoje é o dia 30 de agosto, um dia antes do prazo para o pagamento da 2ª tranche, num valor de 1.95 milhões, um valor altíssimo para a nossa realidade (vendo o orçamento para este ano as receitas operacionais do clube são de apenas 4 milhões sendo que mesmo sem a influência das ações já se previa um pequeno resultado liquído negativo). No entanto nada nos foi dito ou explicado ainda!

Na AG extraordinária de maio foi repetidamente perguntado qual o plano financeiro para pagar as ações e foi repetidamente negado qualquer esclarecimento para além de “existe um plano” (que não nos foi divulgado). Nesta última AG ordinária do clube em junho, para divulgar o orçamento (precisamente uma descrição do que o clube vai ter de rendimento e gastos), a direção optou novamente por não explicar e apenas foi dito que o “impacto no orçamento do clube será neutro pelo que não está referido no respectivo documento, pois as acções serão vendidas a terceiros”.

Recordo finalmente que foi prometido aos sócios que teriam a oportunidade de decidir o que fazer com as ações, mas já vamos no pagamento da segunda tranche e não foi feito ainda nenhum esclarecimento, sendo que parece (quase) certo pela direção que iremos vender a terceiros as ações que ainda nos faltam (re)comprar. Parece-me portanto que existem ainda muitas coisas por esclarecer e gostava por isso de deixar algumas perguntas que a meu ver deveriam ser respondidas no imediato pela nossa direção (e até já deviam ter sido discutidas em AG antes desta segunda tranche):

Como vai o Vitória (clube) pagar os 5.2 milhões que faltam da compra das ações (1.95 milhões já amanhã)? O Vitória clube não tem esse dinheiro disponível.

Porque não foi isto discutido em AG (seja numa das já realizadas ou numa convocada precisamente para esse efeito) e porque até agora nos foi sempre negado o direito a saber como pensa a direção fazer e qual o plano para estes pagamentos que faltam?

Se a solução no imediato passar por alguma transferência de dinheiro da SAD para o clube, que mecanismo será usado para tal desiderato e com que liquidez, uma vez que a própria SAD teve ainda muito recentemente de fazer um “adiantamento” de 20 milhões (via titularização de créditos decorrentes das receitas de transmissão televisiva), consubstanciando uma situação delicada e para a própria SAD?

Para além destas perguntas para o imediato, existem também outras perguntas fundamentais a curto prazo: qual o plano para a propalada venda de ações a um "investidor"? Quem é e como irá rentabilizar esse investimento? O que lhe oferecerá o Vitória? Quando e como será discutido esse assunto com os sócios? Será dado real poder de decisão aos associados e mais do que uma via possível, ou será apenas dada uma alternativa plausível, quase consumada e inevitável?

Mais haveria para ser dito, mas a mensagem mais importante é uma que já aqui veiculei, e que versa a importância da transparência e da comunicação! Podemos até não concordar com alguma decisão da direção, mas iremos certamente compreender melhor se nos for explicado o racional usado.

É preciso comunicar com os sócios de forma regular e não tornar opacos atos de gestão que influenciam decisivamente o futuro do nosso clube. É preciso explicar o que vai acontecendo e não esconder ou adiar justificações. É preciso encarar a comunicação como uma prioridade e não apenas ir tentando cumprir os “serviços mínimos” como uma mera e “aborrecida” obrigação.

O Vitória tem na sua massa associativa a sua maior riqueza e merece que essa discussão exista e seja feita com tempo e em profundidade. É este o pilar fundamental para uma verdadeira estabilidade: comunicar regularmente e envolver os sócios, como verdadeiros parceiros de gestão e não como adversários!

Tópicos

Subscreva a newsletter Tempo de Jogo

Fique a par de todas as novidades

Opinião Desportiva

Multimédia

Podcast