A importância da estabilidade no futebol
É fundamental que o Vitória consiga assegurar a manutenção de uma “espinha dorsal” de ano para ano, que possa trazer estabilidade não apenas desportiva mas também da própria cultura do clube.

Douglas, Pedrão, V. Garcia, Davidson, Ola John, Pêpê, J. C. Teixeira, Florent, Venâncio, L. Evangelista, Tapsoba e Bonatini. O que têm em comum estes 12 jogadores? Todos foram titulares do Vitória em pelo menos 10 jogos do campeonato anterior e este ano não estão no nosso plantel. Uma autêntica revolução! Em toda a história do Vitória apenas por uma vez mudamos mais jogadores neste moldes: 13, em 05/06, ano em que… descemos de divisão!
Infelizmente o Vitória tem sido fértil nestas revoluções, sofrendo com as suas inevitáveis consequências. Como alguém que aprecia a vertente estatística do futebol, mantenho uma base de dados me permite medir de forma concreta e objetiva esta intuição de que temos sido um “carrossel de jogadores”. Consideremos os jogadores que foram titulares em pelo menos 10 jogos no campeonato como sendo a “espinha dorsal” do Vitória. Quantos destes jogadores jogaram também pelo menos 10 jogos na época anterior? Ao olhar para os dados da presente época vemos que apenas 3 (!!) estão nestas condições (André André, Sacko e Edwards), o valor mais baixo de sempre em toda a história do Vitória, apenas igualado em 10/11. Como contraste, veja-se os anos 90 onde por exemplo conseguimos 4 qualificações consecutivas para as competições europeias: nessa década a nossa média de jogadores nas condições atrás descritas era superior a 9, e mantínhamos sempre uma base sobre a qual a época seguinte era trabalhada.
No futebol, como em muita facetas da vida, a estabilidade é crucial. Quando um jogador chega a um clube existe todo um “mundo novo”. É necessário arranjar casa, conhecer uma nova realidade e muitas vezes até um novo país, ao mesmo que tempo que a própria família se tenta também integrar. É necessário conhecer as infraestruturas, os adeptos, uma nova equipa técnica, novos esquemas táticos e novos colegas. É por isso muito natural que a primeira época de um jogador seja de adaptação, de criação de rotinas, e que as épocas subjacentes signifiquem uma subida no rendimento.
É verdadeiramente fundamental que o Vitória consiga assegurar a manutenção de uma “espinha dorsal” de ano para ano, que possa trazer estabilidade não apenas desportiva, mas também da própria cultura do clube. Nos últimos anos temos assistido precisamente ao contrário deste ideal e são muito raras as épocas onde a maioria da equipa titular se mantém sequer de uma época para outra. É necessário quebrar este paradigma, essa vertigem pela mudança, e perceber que estrategicamente é preciso apostar na continuidade. As contratações têm de ser “cirúrgicas”, complementando o plantel que já existe. As remodelações têm que ser incrementais e não disruptivas, mantendo uma base estrutural por onde a equipa pode realmente crescer em continuidade, num projeto desportivo coerente que não muda “da noite para o dia”. Só com essa estabilidade poderemos ambicionar cumprir o nosso potencial e verdadeiramente ter um crescimento sustentável.