À espera de um novo Berço, os escombros escondem um campo “acima da média”
Anfiteatro é uma rubrica do Tempo de Jogo que apresenta os recintos desportivos vimaranenses. Vamos até Sande São Lourenço, a um recinto diferente, que há muito está sem atividade.

Ambiente bucólico paredes meias com um Monumento Nacional. Do Castro Sabroso vê-se outra espécie de monumento em Sande São Lourenço: o Campo de Jogos do CCD São Lourenço, inaugurado no início do novo milénio.
Um passo rumo à modernidade num clube modesto que militava na 1.ª Divisão do futebol distrital. Café/Bar, restaurante, várias salas de reuniões, sala para o rancho folclórico, banhos de imersão, sala para árbitros e uma lavandaria enorme, entre outras valências. Todas as comodidades que qualquer clube deveria ter, construídas de raiz.
A entrada imponente impressiona. Estamos perante mais do que um campo de freguesia, ou vila, mas sim um miniestádio com bancada curva e cobertura de raiz, com uma arquitetura moderna. Despontou na altura do Euro 2004, propondo-se a ser uma estrutura de apoio.
A seleção de Itália chegou a ponderar fazer do Campo de Sande São Lourenço o seu quartel-general para o europeu. “Vieram cá, houve conversações para que fizessem cá o estágio, mas acabaram por não vir”, dá conta ao Tempo de Jogo António Gonçalves, que em 2004 era vice-presidente do clube, entretanto extinto.
“Era dos melhores do concelho, sem dúvida alguma”
A 24 de janeiro de 2004 era inaugurado o relvado natural. Um investimento de 30 mil contos num relvado natural de última geração e já preparado como poucos no concelho, com sistema de drenagem, rega e caixa própria para a instalação.
Para António Gonçalves não restam dúvidas: “Era dos melhores do concelho, sem dúvida alguma”, uma vez que “estava apetrechado com tudo acima da média”. Durante quatro anos foi utilizado pelo CCD São Lourenço, na 1.ª Divião da AF Braga, impressionando pela sua sumptuosidade.
“Uma vez chegaram lá uns árbitros para arbitrar um jogo do São Lourenço, viram aquelas instalações e aquele relvado e voltaram para trás. «Não pode ser aqui isto deve ser um campo da 2.ª Divisão Nacional». E foram-se embora. Tivemos depois de ligar à AF Braga, a dizer que os árbitros não vinham. Ligaram com eles e os árbitros disseram que não sabiam onde era, que o único campo que viram não era de 1.ª Divisão, que era muito grande e muito bom. O jogo começou muito mais tarde”, atira o antigo dirigente.
Um regalo para os jogadores. Adversários chegavam a dizer que naquele campo e naquele relvado até jogavam sem receber nada em troca.
Abandonado à espera de renascer com um novo Berço
Até que, após quatro anos de utilização do novo relvado, o vazio diretivo do clube acabou com a prática desportiva na freguesia. De lá para cá, desde 2008, sensivelmente, o campo de jogos está ao completo abandono, tendo sido tomado de assalto pelo vandalismo.
No meio dos escombros, tal como as fotos documentam, há ainda um esboço do projeto completo para o complexo desportivo. Para além do campo principal, foi ainda finalizado o campo secundário, pelado. Nos planos estava vedação do espaço, construir acessos em torno do complexo e construir parques de estacionamento de apoio.
“Numa freguesia destas a obra foi megalómana, não devia ter sido feito tão grande para uma freguesia tão pequena. Mas, uma vez que foi feito, devia manter-se”, atira António Gonçalves. As cadeiras estão partidas, as paredes esborratadas com tinta e a vegetação invade um interior vandalizado a complementar um cenário de guerra. “É uma pena estar naquele estado”, diz António Gonçalves.
Entregue ao Berço SC num contrato de comodato válido para três décadas, o Campo de Sande São Lourenço espera ganhar nova vida. Um novo berço para esta infraestrutura de excelência. O recinto foi recentemente intervencionado, foi feita uma limpeza e avaliação da estrutura, sendo necessária uma verba a rondar os 400 mil euros. Um problema que Domingos Bragança se comprometeu a resolver junto dos responsáveis do clube, permitindo assim dar vitalidade a esta zona do concelho.
Fotos: Pedo C. Esteves