A arte de Steven Vitória mostra que, com o Moreirense, é até à última
Equipa de João Henriques volta a pontuar nos últimos segundos do jogo, com um livre exímio do central. Cónegos estiveram a vencer, mas a última hora, de domínio gilista, quase ditou a derrota.

A 30 segundos do fim, o Moreirense perde por 2-1 com o Gil Vicente e só tem uma oportunidade para chegar aos pontos: é um livre descaído para a esquerda que cabe a Steven Vitória bater. Naquela hora decisiva, o defesa central concentrou 17 anos de experiência no futebol numa bola que desenhou uma curva sobre a barreira e ainda beijou a trave antes de sacudir as redes à guarda de Frelih. Um belíssimo golo que deu mais um ponto para a caminhada cónega na Liga Bwin: a turma de João Henriques soma agora nove, ocupando o 15.º lugar da tabela.
Os vimaranenses repetiram o que já fora feito nos Açores, frente ao Santa Clara – André Luís fez o 2-2 aos 90+10 – e ao Belenenses SAD – golo do empate surgiu aos 86 minutos, também pelo avançado brasileiro, num jogo que decorreu como se as equipas acionassem à vez um interruptor para dominarem o que acontecia no interior das quatro linhas, com um desfecho que se antecipava favorável aos barcelenses, mais fortes na última meia hora.
Mas o ritmo a que as equipas trocaram de ascendente variou, assim como a velocidade que imprimiram ao jogo: a segunda parte foi bem mais corrida do que a primeira. Nos 45 minutos iniciais, o conjunto verde e branco ao xadrez tentou bloquear a saída de bola dos galos junto à área contrária, tal como fizera no encontro anterior, mas os comandados de Ricardo Soares encontraram quase sempre soluções para se libertarem dessa pressão. No entanto, as incursões gilistas à baliza defendida por Kewin foram esporádicas; a óbvia exceção foi o cabeceamento de Fran Navarro por cima aos 44 minutos, quando parecia ter tudo para o golo.
Yan deu um elã que esvaziou. Steven Vitória evitou que ele furasse
As equipas rumaram aos balneários, descansaram, aclararam ideias e regressaram intensas, agressivas… e goleadoras para a segunda parte. Bastaram quatro minutos para o marcador funcionar. O árbitro Manuel Oliveira vislumbrou um toque de Zé Carlos a desequilibrar Yan na área gilista e assinalou um penálti validado pelo vídeoárbitro. O extremo brasileiro levantou-se, posicionou a bola para a conversão do castigo máximo e atirou ao ângulo superior direito, enganando Frelih.
Os homens de João Henriques pareciam ter encontrado a chave para o controlo da partida; nos 10 minutos seguintes, pressionaram alto e ganharam quase todas as bolas a meio-campo graças ao posicionamento de Fábio Pacheco e de Ibrahima. Pelo meio, ainda desperdiçou duas situações de contra-ataque, com Abdu Conté a rematar à malha lateral numa delas.
Tudo mudou aos 61 minutos, porém. Uma bola na trave de Pedrinho, ao converter um livre, despertou o engenho ofensivo de um Gil Vicente até então incipiente na reação. Kanya Fujimoto obrigou Kewin a grande defesa no minuto seguinte e deu força a uma tendência que se acentuou nos minutos seguintes: os comandados de Ricardo Soares acamparam junto à área vimaranense com um futebol assente em triangulações e empataram num tiro rasteiro e cruzado de Samuel Lino de fora da área, ao minuto 68. Tapado por dois colegas, o guardião cónego perdeu uma fração de segundo para se atirar e já não chegou à bola.
A equipa trajada de Barcelos consolidou o processo ofensivo nos minutos seguintes e virou o resultado ao minuto 77: Abdu Conté demorou a reagir na marcação ao cruzamento de Antoine Léautey, Rosic andou aos papéis na cobertura e Fran Navarro aproveitou o espaço para cabecear para o fundo das redes, ao contrário do que fizera na primeira parte.
Obrigado a correr atrás do resultado, o Moreirense tentou de tudo nos minutos finais, mas de forma raramente esclarecida. Só mesmo o sopro de inspiração de Steven Vitória livrou a equipa da derrota; é o momento do jogo, que vale a pena ver e rever.