A alma. Uma história de pedra e cal: João Pereira já foi quase tudo no Polvoreira
Jornadas debaixo de chuva para aplicar cal no relvado, mas também a presidência do clube. João Pereira dedicou anos ao U.D Polvoreira e cultivou terreno fértil para o clube crescer.

O homem que acaba de entrar no Campo dos Carvalhos traz uma pasta debaixo do braço. Desbotada pelo passar dos anos, guarda fotografias, adendas e apontamentos de tempos idos. Alberga também uma mão cheia de cartões de sócio – que são, no fundo, bilhetes de identidade de uma vida emprestada a um clube, a União Desportiva de Polvoreira. Em todos os registos arquivados – e ainda são muitos –, um nome: João Alves Pereira. Função? Para além de associado, diretor, presidente da Assembleia Geral, do conselho fiscal, treinador interino: depende dos anos. Agora é um dos Veteranos do clube e sócio n.º 2.
A ligação ao Polvoreira começa a marinar nos tempos de mocidade, em encontros no café Bom Viver. Dos colóquios surgiu o Carvalhos Futebol Clube, predecessor da União Desportiva, que nasce em 1973. “Das reuniões do café do Anibal Alves, um dos fundadores, criou-se um clube. Apareceu este campo e ainda me lembro do primeiro jogo”, relata o sócio da coletividade. “Foi numa segunda-feira de Páscoa, arrancamos ‘trepos’ que davam milho e fizeram-se balizas com paus dos montes para um jogo de solteiros contra casados. Agora é tradição, ainda hoje se faz.” E é a partir daqui que “a coisa se desenvolve”.
Com o advento do campo, a hipótese de formar uma equipa. Fomentaram-se rivalidades. Nenhuma como a que os Carvalhos era palco em dia de jogo com o Tabuadelo. “Acabava sempre em pancadaria. Havia muita gente a assistir a esse jogo. Eu ainda me lembra quando fomos tricampeões [no futebol popular], estava no banco e fui expulso. Da maneira que estava a proceder com o árbitro, tinha de ser”, admite.
Fotografias: Bruno José Ferreira
Uma "direção de enxada"
Mesmo com 70 anos, João Pereira não esquece a quem deve prestar “homenagem” e as amizades que construiu no seio da comunidade. Há uma que não pode esquecer, diz. José Freitas, antigo roupeiro do Vitória Sport Clube, falecido no ano passado, ajudou muitas vezes a marcar o campo. Debaixo de chuva, munidos com um carrinho, aplicavam cal no tapete do Campo dos Carvalhos. “Um trabalhador incrível”, recorda.
É desta camaradagem que o UD Polvoreira também é feito. O antigo presidente fala em “direções de enxada”, que contavam com o apoio de gentes da terra para fazer empreitadas e cuidar dos Carvalhos. Não há competições neste momento e há obras em curso. A imagem contrasta com os primórdios. A UD Polvoreira cresceu ancorada num trabalho contínuo, muito dele está naquela pasta de João, que ainda tem espaço para mais memórias, mais adendas, mais história.