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1912: a jornada olímpica portuguesa começou com uma tragédia

Começou a cambalear, caiu, fez um esforço para se levantar, mas acabou por desfalecer. Foi transportado para o hospital, mas já nada houve a fazer.

16 julho 2021 > 17:00

Em 1912, uma comitiva lusa composta por seis homens partiu para Estocolmo, na Suécia, com a missão de participar na quinta edição dos Jogos Olímpicos. Na estreia portuguesa, os resultados não foram brilhantes. Nos 800 metros, Armando Cortesão avançou até à meia-final.

Assinou o resultado mais entusiasmante de todos. As prestações de António Stromp no atletismo, de Joaquim Vital e de António Pereira na luta e de Fernando Correia na esgrima passaram despercebidas.

Se os maus resultados fossem o pior dessa estreia, a primeira memória olímpica portuguesa era feliz, mas o pior aconteceu. Francisco Lázaro, o sexto nome desta comitiva, foi uma escolha óbvia. O fundista do Sport Lisboa e Benfica gozava de enorme popularidade no meio desportivo em que se movimentava em virtude dos sucessivos triunfos nas maratonas. Foi nessa disciplina que participou nas olimpíadas de 1912. Partiu para a Suécia poucas semanas depois de vencer a Maratona Portuguesa com um tempo inferior ao que tinha conseguido o medalhado com o ouro nos Jogos Olímpicos de 1908. As expectativas eram altas. O próprio Francisco Lázaro queria fazer daquele o seu momento. Eternizou-se uma frase que, segundo consta, disse antes de partir: “ganho ou morro”.

No dia 15 de julho, em Estocolmo, o calor era abrasador. Os mais de 30º C à sombra não faziam augurar nada de bom para a prova da maratona agendada para o início da tarde. Os médicos pediram o adiamento, mas viram-no ser recusado. O melhor que a organização podia fazer era recomendar que os atletas usassem chapéu. Dos quase 100 inscritos, menos de 80 começaram a prova e só 35 cortaram a meta. O lisboeta, que partiu sem chapéu e não tinha como se proteger do calor, não era um deles. Os registos dão conta de que ao quilómetro 25 ainda se encontrava bem, mas na marca dos 29 quilómetros deu-se a tragédia.

Começou a cambalear, caiu, fez um esforço para se levantar, mas acabou por desfalecer. Foi transportado para o hospital, mas já nada houve a fazer. Francisco Lázaro morreu durante a madrugada. Apesar de por vezes ser contestada, a versão oficial aponta que desidratação e insolação foram as causas da morte. A combinação de se besuntar com sebo antes da corrida, como era normal na época, com a falta de um chapéu para lhe cobrir a cabeça revelou-se fatal.

Foi a primeira morte de um atleta durante os jogos.

Desde então, Portugal participou em todos os Jogos Olímpicos realizados, felizmente sem registos de uma participação tão trágica como a primeira. Desde Estocolmo, em 1912, até ao Rio de Janeiro, em 2016, mais de 730 atletas portugueses participaram nas 24 edições realizadas (não se realizaram em 1916, 1940 e 1944 em consequência das guerras mundiais).

Em 1924, pela primeira vez, a bagagem voltou mais pesada. No hipismo, em Paris, Portugal conquistou a primeira medalha. Na prova de obstáculos por equipa, o trio composto por António Borges D’Almeida, Hélder de Souza Martins e José Mouzinho d’Albuquerque conquistaram o bronze. Foi a primeira de, até agora, 24 medalhas. Destas, 12 são de bronze, oito de prata e quatro são de ouro. O restrito grupo de atletas portugueses que venceram a medalha mais desejada é composto por Carlos Lopes e Rosa Mota, ambos na maratona; Fernanda Ribeiro venceu nos 10000 metros; e Nélson Évora, por fim, no triplo salto.

Foto: © A nave do bom gosto

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